sexta-feira, 21 de maio de 2010

EM CARTAZ: SOLOS TRÁGICOS


TEATRO RENASCENÇA ATÉ DOMINGO DIA 23 DE MAIO
SÁBADO = 21 HORAS
DOMINGO = 19 HORAS
INGRESSOS = 20 E 10 REAIS

segunda-feira, 12 de outubro de 2009

2002 - AUTO DA COMPADECIDA

Nossa maravilhosa aventura pelo mundo da comédia, pelo mundo de Suassuna. Com esta dupla impagável (Mário de Ballentti e Heinz Limaverde) e mais Liane Venturella arrebentando no papel da mulher do padeiro, criamos uma comédia brilhante que levava o público as gargalhadas do início ao fim.
A princípio, o Auto deveria ser apresentado na rua. Aliás, teve sua estréia na rua, numa praça de Belém Velho e acabou no meio do segundo ato porque começou a chover. Por falta de patrocínio levamos o espetáculo para dentro do Depósito de Teatro. Um sucesso de crítica e de público.

2002 - UMA BALADA PODRE

Mais uma peça do Núcleo de Formação de Atores que resultou num excelente espetáculo. Com um roteiro baseado em diversas peças de Mário Bortolotto construímos um espetáculo radical e de grande impacto para os espectadores. O grupo era afinadíssimo e encarou o desafio com coragem e garra.

2001 - O PAGADOR DE PROMESSAS

A grande aventura teatral encenada na Igreja nossa Senhora das Dores. Tivemos que ir até o bispo para liberar a escadaria da Igreja para as apresentações da peça. Mas valeu a pena.

segunda-feira, 28 de setembro de 2009

ANIVERSÁRIO DO DEPÓSITO PASSOU EM BRANCO

Em agosto, o Depósito de Teatro esteve de aniversário. Quantos anos fez? Difícil de saber como contar. A semente de um grupo começou em 1996 com as peças do Plínio Marcos que foram encenadas no Teatro de Arena no ano seguinte. Em agosto de 1998 alugamos um prédio na Av. Benjamin Constant, 1677, que foi transformado no nosso teatro. Espaço aberto, independente e alternativo, totalmente custeado por um grupo de pessoas dispostas a dar aulas gratuitamente em troca de um lugar fixo para ensaiar e apresentar seus espetáculos. Um bom preço para não concorrer mais nos editais da Prefeitura (imaginem o quanto a Prefeitura economiza com nossa ousadia). Em 2006, recém passado o agosto terrível em que fomos roubados por nossa produtora Letícia de Abreu Pereira Guimarães, cuidado, foi condenada a um ano e quatro meses, mas anda solta por aí. Ela nos roubou 30 mil reais em um ano e oito meses de trabalho. Esta quantia para um grupo de teatro representa uma fortuna. Ainda mais, que ela nos roubou também coisas invisíveis que não sabemos estimar, mas o fato é que começa aí a derrocada do grupo e do seu espaço.
Em agosto de 2008 o Depósito fechou definitivamente suas portas. Os prédios da Câncio Gomes foram devolvidos aos seus proprietários com todas as melhorias que conseguimos fazer. E não foram poucas. Novamente, me senti um verdadeiro e único otário, que só não era o único porque havia outros parceiros de grupo tão otários quanto eu. O fator determinante foi um golpe aplicado pela Funarte, que nos deu um calote de 180.000 reais depois de nós havermos pago os 30.000 mil que eles nós cobraram exemplarmente. O homem de teatro e dono de casa de teatro, o grande Celso Frateschi, amigo dos grupos e das rodas influentes, na época presidente todo-poderoso da instituição, não nos recebeu, não moveu uma palha para conhecer mais de perto o assunto.
Gosto de inculpar o Celso Frateschi, tanto porque parece que eu preciso imputar a culpa a alguém, mas também, porque ele era o que mais poderia ter feito e não fez. Lavou as mãos. Mas, o Sergius Gonzaga também poderia ter feito mais do que fez e não fez. O Luciano Alabarse também poderia ter feito mais do que fez. A Claúdia D'Mutti poderia ter feito mais e não quiz fazer. Os grupos de teatro poderiam ter feito mais do que fizeram e não fizeram nada. As pessoas de teatro. Todos os que estavam ao nosso redor. Não foi só o Celso Frateschi que ignorou nossa existência, mas foi ele que atirou uma pá de cal, danando-se com o que poderia acontecer.
O que veio a acontecer todos ja sabem: fechou o que um dia seria o Espaço Cultural Depósito de Teatro e dissolveu-se o grupo Depósito de Teatro. Aqueles que ainda não haviam saído durante o ano de 2007, abandonaram o grupo no ano seguinte. Alguns ajudaram a fechar as portas, outros nem isso. O ano do décimo aniversário foi o ano do fracasso total. Não havia o que ser comemorado.
E este ano? Encarar como o décimo-primeiro ano? Décimo-primeiro ano de quê? Na verdade, deveria ser comemorado o primeiro ano de alguma coisa. O primeiro ano sem o Depósito de Teatro. Mas se é sem, não tem porque comemorar. Mais uma vez, mais um ano sem motivo para comemorações.

sábado, 20 de junho de 2009

2000 - A FARSA DO PANELADA

A Farsa do Panelada fez uma excelente carreira. Pegou uma carona com O Pagador de Promessas e apresentou-se em Montevidéo.
Na foto: Atrás, Sandra Possani, em primeiro plano: Maria Falkembach e Roberto Oliveira.

quinta-feira, 18 de junho de 2009

2000 - A FARSA DO PANELADA

Tudo começou com um convite da Coordenação de Artes Cênicas para que fizéssemos uma leitura dramática de A Farsa do Panelada, do dramaturgo e escritor cearense José Mapurunga, que classificou-se em primeiro lugar no II Concurso Nacional de Dramaturgia Carlos Carvalho.
Um tempo depois, precisávamos comprar o equipamento de luz que estava instalado no espaço e que era alugado. Também precisávamos manter o aluguel da sede sempre em dia. Daí, decidimos montar um espetáculo de rua e então escolhemos e encenamos A Farsa do Panelada.
A peça estreou na frente do Teatro Renascença, com a presença do autor, que ficou muito surpreso de ver sua peça sendo encenada na rua, pois pra ele, tratava-se de um texto para sala. Mesmo assim, e apesar de outras liberdades que tomamos, ele paraceu ter gostado da encenação. As apresentações seguintes foram realizadas em viagem. Fomos para o sul do Rio Grande do Sul e apresentamos até na Praia do Hermenegildo.

Na foto Liane Venturella como Santa Edwiges e Roberto Oliveira, o Anjo Gabriel.

quarta-feira, 17 de junho de 2009

2000 - VEREDA DA SALVAÇÃO

No início de 1999, ficou decidido em reunião que manteríamos o aluguel da sede do Depósito de Teatro na Av. Benjamin Constant, 1677 e que o aluguel seria pago com o dinheiro que resultaria de uma oficina de teatro. Criamos o Núcleo de Formação de Atores e sua primeira Oficina de Formação de Atores com a proposta de encenar um espetáculo no final de um semestre.
Ingenuamente não percebemos a loucura que estávamos cometendo e que só foi corrigida na ano seguinte quando passou-se a encenar um peça por ano e não por semestre. Mas, em 1999, primeiro ano de oficinas a coisa aconteceu semestralmente.
No final do primeiro semestre estreou FLOR DE OBSESSÃO. Pequenos recortes da obra literária de Nelson Rodrigues. Recortes que foram retomados anos depois quando lançamos os esquetes do Projeto Nelson Despedaçado.
No segundo semestre iniciou uma nova turma. E foi encenada uma nova peça. Em janeiro de 2000 estreamos VEREDA DA SALVAÇÃO de Jorge Andrade. A peça iniciava nossa Trilogia Religiosa, que se completaria com O PAGADOR DE PROMESSAS, de Dias Gomes e AUTO DA COMPADECIDA, de Ariano Suassuna. Pretendíamos investigar o sincretismo religioso brasileiro. As três peças faziam parte de um projeto maior que chamávamos de Projeto Teatro Brasileiro, cujo objetivo principal era pesquisar os ícones formadores da chamada "brasilidade".
Vereda da Salvação era um luxo. Espetáculo de baixíssimo custo e altíssimo resultado. Consideramos VEREDA DA SALVAÇÃO até hoje como um dos melhores trabalhos desenvolvidos pelo Núcleo.

99 - RISCO, ARISCO & CORISCO


Esta peça ja havia sido montada com sucesso de crítica e de público em 1981. A peça foi indicada em várias categorias do Tibicuera. A Débora Finocchiaro ganhou Melhor Atriz Coadjuvante e eu ganhei o troféu de Melhor Direção. A peça realizou várias temporada, viagens e teve uma carreira longa e brilahnte.
Embalado pelo sucesso da montagem anterior, quando se pensou em montar um espetáculo infantil no Depósito de Teatro surgiu logo a idéia de remontar o Risco. Assim, enviei um projeto para o Fumproarte e foi aprovado. Então, remontamos a peça. e estreamos no Projeto de Circulação da Cida Herok. Ainda não era o Lâmpada Mágica e ainda não tinha por trás o patrocínio da AES Sul. A Cida estava plantando. Fizemos apresentações em Santa Maria e arredores, e depois estreamos a peça no Teatro Renacença aqui em Porto Alegre.
Do elenco da montagem original ficou só a Adriane Azevedo, no papel de Corisco. Entraram a Liane Venturella e a Sandra Possani para formar o trio, fazendo Risco e Arisco. Entrou a Maria Falkembach para fazer os personagens femininos. Entrou o Serginho Etchichury para fazer os personagems "maus". O Serginho ja havia feito outros papéis em peças infantis, mas chegou a conclusão que era demais pra ele e pediu pra sair. Deixou pra comunicar esta decisão faltando um mês pra estréia. Causou um stress no grupo e um decréscimo na montagem. Fiquei puto, e entrei no lugar dele porque era a solução mais fácil já que eu conhecia bem a peça e ja decorara os textos dirigindo os ensaios. Acabei adorando fazer. Mais tarde a Adriane saiu, a Maria passou a fazer o Corisco, além dos seus personagens femininos. Ou seja, resolvemos entre nós.
Também nesta montagem o espetáculo teve uma enorme aceitação de crítica e público. Estreamos no interior participando de um projeto de circulação mantido pela Cida Herok. Ainda não era o polpudo Lâmpada Mágica. Ainda não tinha a AES Sul por trás, bancando.Eram tempos bem mais duros. A Cida estava plantando as sementes do Lâmpada Mágica. Em Porto Alegre, estreamos no Renascença e depois fizemos várias temporadas por aí e inclusive no Depósito de Teatro.
A peça acabou em Blumenau onde tanto o espetáculo, quanto todos nós, fomos destruídos por um grupo de doutores em teatro infantil que analisam as peças que passam por lá. Ainda tentamos fazer uma temporada na Casa de Cultura, mas não deu certo. Blumenau abalou nossa confiança.

sexta-feira, 26 de dezembro de 2008

98 - 2XNELSON - BOCA DE OURO

Inacreditavelmente, a peça foi feita em seis semanas. Eu me sentia plenamente potente. Estava mais uma vez apaixonado por uma mulher e por um projeto e pelo teatro. Lançava-me a algo completamente novo: a experiência de " ter" um espaço para criar. "Boca de Ouro" fazia parte de um momento especialíssimo na minha vida: eu havia conseguido fazer "O Barão...", estava dirigindo um mega-espetáculo, chamado Fronteira de Fogo, com mais de cem atores, na cidade de Osório, numa experiência ímpar. Eu ia e voltava todos os dias durante mais de dois meses. Estava trabalhando como ator em dois curtas: "Oitavo Selo", primeiro trabalho do queridíssimo e maravilhoso Tomás Créus, e "O Velho do Saco", onde fui dirigido por Milton do Prado e Amabile Rocha. Enorme sorte que tive de trabalhar comn diretores que trataram com enorme gentileza a minha falta de experiência diante da câmera. Estava atuando em "O Beijo no Asfalto" e atuando em "Intestino Grosso" curta de Augusto Canani, que adorei fazer. Experiência maravilhosa. Me entreguei totalmente (pelo menos é o que acho) na construção de uma personagem que correspondesse ao que queria o diretor. Acho que era o primeiro curta do Canani (talvez fosse o segundo), mas ele sabia exatamente o que queria. E, em todo tempo que sobrava eu estava no novíssimo espaço do Depósito de Teatro, que até então era chamado de Depósito porque não tínhamos um nome melhor, dirigindo meu "Boca de Ouro".´
O resultado foi assustadoramente superior ao esperado. É certo, que enormes correções de entrada e saída e movimentação geral foram ajeitadas e melhoradas durante a temporada. Mas assim eu acho que é o teatro: um organismo vivo que pode e deve aperfeiçoar-se durante toda a sua existência. Mais ou menos o que acho que o homem deve fazer com sua própria existência. Mais ou menos o que tento fazer com minha vida. Tento ser um homem melhor e aprofundar-me na arte que escolhi para me expressar.
Fazer o "Boca..." foi uma dádiva. Trabalhei com atores dedicados e que também pareciam estar vivendo uma fase especial nas suas vidas. Sérgio Etchichury, simplesmente brilhante na sua composição e doação na construção de um Boca de Ouro, cínico, cruel e completamente sedutor nas três versões da história. Os homens se identificavam com sua objetividade com as mulheres. O Boca do Serginho era o cafajeste idealizado por todos os homens. As mulheres deliravam. Apaixonavam-se imediatamente. O Serginho criou o anti-herói que o Boca era. Maravilhoso. Acertadamente contemplado com a Açorianos de Melhor Ator daquele ano.
Uma dupla incadescente: Paulo Vicente - meu ator fetiche, adoro trabalhar com o Paulo, acho que ele é simplesmente o máximo - e Sandra Possani, a mais maravilhosa atriz com quem tive oportunidade de trabalhar. Eles eram Agenor e Dona Guigui. Paulo Vicente havia trabalhado comigo em "Abajur Lilás", e a Sandra, vinha do "Barão". Ele tinha detonado na pele do viado Giro, e a Sandra, que conquistou o público no papel da enlouquecida Batista, irmã do Barão.
Outra dupla importante era formada por Álvaro Rosacosta e Maria Falkembach, que viviam o casal Leleco e Celeste. Álvaro, como sempre numa atuação impecável, mas daquela vez ele ainda alcançava notas mais elevadas e atingia o brilhantismo na metódica construção que fez para Leleco. Maria, com total confiança e amor na direção e no diretor, entregou-se inteiramente na construção dedicada das suas três Celestes, pois a história é recontada três vezes, e a cada vez, Celeste e Leleco aparecem para o espectador sob um aspecto diferente. Aliás, todos os personagens se modificam a cada versão da história. Fato que faz de "Boca de Ouro" uma peça que parece ter sido escrita especialmente para demonstrar o poder de transformação dos atores. Nelson Rodrigues criou uma peça que traz em si uma dificuldade, um desafio, para os atores que a representam.
Outro núcleo era formado pelos jornalistas: Vinicius Petry, o editor, Rodrigo Ruiz, o fotógrafo, e Tuta Camargo na pele do repórter Caveirinha. Só não digo que foi o melhor papel que representaram em toda suas vidas com o atores porque isso seria desprezar a evoplução de cada um destes artistas, mas sei que cada um deles, viveu intensamente o projeto e doou-se com amor, prazer e dedicação. O Vini e o Tuta vinham do "Barão". Rodrigo vinha de "Agora é Festa". Os três atiraram-se de corpo e alma na montagem. O Vini compôs nosso samba enredo. O final da peça era simplesmente maravilhoso. Completamente surpreendente. Quando entrava em cena a escola de samba que estava ensaiando durante todo o decorrer do espetáculo, traduzindo a história da peça num samba enredo de uma hipotética escola da samba carioca, o público delirava de prazer. Era o inesperado. A surpresa.
Desculpem a falta de modéstia, mas os deuses do teatro conspiraram para que nossa montagem de "Boca de Ouro" atingisse um ápice e se constituísse naquilo que eu chamo de acontecimento teatral único.
Muito depois, assistindo a montagem do Zé Celso apresentada no Theatro São Pedro, tive o prazer de receber os cumprimentos de várias pessoas que enxergavam qualidades superiores na nossa encenação. A peça do Zé era linda. Espetacular. Mas o ator principal enterrava a peça ao construir um Boca vazio.

98 - 2XNELSON - O ELENCO DO BEIJO



A maioria dos atores eram originários do elenco de "O Barão nas Árvores", produção anterior. O Kike e o Álvaro tinham feito as peças do Plínio Marcos. Nosso rumo era formar um grupo. Assim, faziam parte do elenco de "O Beijo no Asfalto" os seguintes atores e atrizes: a família central: Roberto Oliveira, Aprígio, o patriarca da familia, Sandra Possani, Vanise Carneiro e Kike Barbosa, o genro, o marido de Selminha e cunhado de Dália. Todos amavam Arandir.
Outro núcleo de personagens era formado por Sérgio Etchichury, Álvaro Rosacosta e Tuta Camargo que viviam respectivamente, o cruel e cínico jornalista Amado Batista, o incansável corrupto delegado Cunha e seu melífluo assistente Aruba. Todos odiavam Arandir. Liane Venturella era a vizinha. Desprestigiado papel que ganhava brilho e intensidade devido ao excepcional talento da atriz que transformava o riso provocado pelo Serginho no choro e desespero suburbano da sua personagem.
A música era executada parte ao vivo e parte mecanicamente. Como sempre, a música é um caso a parte. Mais uma vez o Fumproarte se comportou de maneira totalmente irracional. No projeto constava que a música seria ao vivo. Porém, no decorrer dos ensaios, a Patrícia foi construindo uma trilha sonora para o espetáculo baseada em Nelson Gonçalves e outros hits do gênero. Foi ao Fumproarte e solicitou uma mudança no projeto, argumentando que a concepção havia mudado desde o momento em que o projeto foi escrito (via de regra pelo menos um semestre antes, mas quase sempre um ano), e o presente momento, em que na prática estávamos construindo o espetáculo. A resposta foi negativa. Tinha que ser música ao vivo. O resultado disso foi a tímida participação dos músicos que só foram verdadeiramente aproveitados na montagem seguinte "Boca de Ouro".
Na foto aparecem Kike Barbosa e Vanise Carneiro numa das cenas finais do espetáculo quando Dália proclama seu amor por Arandir.

sexta-feira, 7 de novembro de 2008

98 - 2XNELSON - O BEIJO NO ASFALTO

A montagem que inaugurou a sede do Depósito de Teatro - espaço de arte e cultura foi "O Beijo no Asfalto", texto de Nelson Rodrigues escolhido e dirigido pela Patrícia Fagundes, a quem pedi que escrevesse alguma coisa para postar neste blog. Enquanto seu texto não chega, embora eu tenha uma memória restrita, vou escrever um relato meu, recordações pessoais sobre o processo, sobre a estréia da peça e lançamento do espaço.
Lembro que ensaiávamos na Cia de Arte. Somente o último mês e pouco de ensaios aconteceu no "nosso" novo espaço: um maravilhoso salão com sete metros de altura, piso de parquê, medindo inacreditáveis 13m X 26m. Não lembro quantos meses ensaiamos, mas tenho a impressão de que não foram muitos. Provavelmente uns três. Inicialmente, como quase sempre são os começos, num clima de cordialidade e companheirismo. A Patrícia tem uma grande habilidade em dotar os ensaios de um saudável clima de trabalho e coleguismo. Mesmo assim, mais tarde, enfrentamos as dificuldades de relacionamento que aparecem em qualquer elenco. Lembro que a relação entre a Patrícia e o Kike eram difíceis. Não só com ela, pois alguns outros colegas também se queixavam do Kike, que naquela época começou a apresentar um comportamento diferentew. Eu ás vezes não o reconhecia. Não parecia a mesma pessoa, o mesmo ator com quem eu trabalhara em " Dois Perdidos...". No " Barão" havíamos nos estressados um com o outro algumas vezes, mas parecia algo natural diante da complexidade e vulnerabilidade da proposta. Era sempre o mesmo ator quanto ao talento e dedicação, mas no "Beijo" e depois no "Pagador de Promessas" eu percebia um Kike diferente, contraditório, difícil, voluntarioso. E como quase todos nós artistas de teatro somos voluntariosos...
Tivemos problemas com o cenário. Eu queria bater no Rodrigo Lopes que teve um comportamento completamente anti-profissional, indigno da qualidade que tem como artista criador. Viramos a noite finalizando o cenário. Pintando paredes, pregando, costurando cortinas, colocando um piso de folhas de out-door. Quem fez o cenário, na prática, foi a Patrícia, que sabia mnuito bem o que queria o colocou os andaimes e os fardos de jornais. Uma composição cenográfica linda assinada pelo Rodrigo Lopes que recebeu o cachê, mas não fez o cenário. Passamos anos sem sequer nos cumprimentarmos. Depois, compreende-se que todo mundo tem seu dia e tudo volta ao normal.
Indo diretamente ao assunto que mais me diz respeito e dfo qual me lembro melhor, recordo que me senti desconfortável no papel de Aprígio. Foi uma personagem muito difícil de compor. Alguém que no final diz: " meu ódio é amor" não é pra qualquer ator construir. Foi um trabalho árduo, construído com a coração e a mente em todos os seus detalhes. Era particularmente difícil dotar de loucura e alma àquele pai de família, com todo peso que isso tem quando se trata de Nelson Rodrigues, que no final da peça assume a sua homosexualidade e explicita diante da platéia que se diverte o seu amor pelo genro. Eu vinha de dois trabalhos que alcançaram êxito: " Decameron" e "O Estranho Sr. Paulo". Neste último, a banheira inventada pelo Camilo parece que justificava a loucura da personagem. Mas aqui, no "Beijo", eu deveria ser um louco de terno e gravata. Um escriturário cinquentão perdidamente apaixonado por Arandir. Talves eu tenha levado muito a sério, mas tive enorme dificuldade.
Lembro que a peça foi um sucesso. Estréia concorridíssima, tanto pelo espatáculo quanto pelo novidade do espaço da Benjamin. Muito público. Boas críticas, receptividade ótima, até os colegas falavam bem. Nem todos é claro, pois tem aqueles que falam mal de tudo. São os reponsáveis pela manutenção da lenda dos caranguejos, mas isso já é outra história. Com certeza, a peça dirigida pela Patrícia foi um excelente começo para o "nosso" teatro que se inaugurava naquele momento.



segunda-feira, 20 de outubro de 2008

98 - 2XNELSON - PROCURA-SE UM ESPAÇO

Com o projeto aprovado, eu e a Patrícia começamos a procurar um espaço para alugar. Um imóvel que pudesse ser transformado num teatro. Cada possibilidade que encontravámos eram conferidas por um colegiado formado por: Serginho, Maria, Liane, Kike e, uma que outra vez, o Álvaro. Vimos muitas salas, depósitos, porões, lojas e prédios afins. Procurávamos algo localizado numa zona mais central. Por isso, excluímos de cara os depósitos da zona norte e centramos o foco nos espaços a disposição em bairros próximos ao centro da cidade. Foi uma longa e penosa procura. Mas, enfim encontramos algumas possibilidades bastante boas e interessantes. Pelo menos em três ocasiões fomos surprendidos por proprietários que se recusavam a alugar seus imóveis assim que percebiam que era para transformá-los em um teatro e que nós éramos "de teatro".
Ficamos divididos entre um prédio enorme, cheio de colunas, na Barros Cassal - onde agora é a CUT - e um depósito praticamente novo no primeiro andar, fundos, na Avenida Benjamin Constant. Acabamos nos decidimos por alugar este segundo. Quer dizer, dissemos para a mãe da Patrícia e para a tia da Maria, respectivamente a locadora Carmem Sílvia Fagundes e a avalista Maria da Graça Falkembach, que elas deviam alugar o depósito da Benjamin Constant.
Começou aí a aventura de ser o "dono" do seu próprio espaço de trabalho.
A Patrícia já tinha programado que em maio do ano seguinte iria para a Inglaterra fazer o seu mestrado, então, pra ela, alugar aquele espaço servia ao objetivo imediato de encenar duas peças de Nelson Rodrigues num espaço inusitado, explorando as possibilidades de uma encenação "rodrigueana"fora do palco italiano. Mas, pra mim, tudo tinha outro sentido. Eu achava que, a partir do seis meses de aluguel pagos pelo Fumproarte, poderíamos criar mecanismos para garantir a manutenção de um espaço com maior permanência, com uma permanência mais longa. Vislumbrava com isso várias possibilidades e "facilidades": não ter que começar sempre do zero = criar acervo de cenário e de figurino; não ter que pedir mais sala pra ensaiar; poder ensaiar com luz, cenário, figurino, etc; explorar e investigar questões relacionadas ao espaço; ensaiar pelo tempo que fosse necessário; criar um grupo que já nasce com esta nova possibilidade de "ter" um espaço. Sei lá, eram tantas coisas que alimentavam o sonho da casa própria.
Mesmo com esta diferença de objetivos, combinamos que tentaríamos manter o local criando uma Oficina de Formação. Os professores eram os prováveis integrantes do grupo que estava acabando de nascer, embora a maioria ouvesse participado de "O Barão nas Árvores": Giselle Checcinni, Vanise Carneiro, Roberto Oliveira, Sérgio Etchichury, Liane Venturella, Sandra Possani e ainda Maria Falkembach que começaria a agregar-se ao grupo a partir de "Boca de Ouro". Minha grande amiga Patrícia Fagundes, manteve-se ao meu lado e deu aulas até as vésperas de sua partida para Londres.
Mas antes de ir embora estreou o novíssimo Depósito de Teatro - espaço de arte e cultura com uma potente encenação de "O Beijo no Asfalto".

sexta-feira, 19 de setembro de 2008

98 - 2XNELSON - AS ORIGENS DO DEPÓSITO DE TEATRO

Antes de entrar no assunto: um pequeno preâmbulo.
Como se sabe, as três peças de Plínio Marcos encenadas no Arena faziam parte do Projeto Teatro Brasileiro. Pois, numa folga de uma das temporadas do Decameron (Cia. Teatro Stravaganza), em São Paulo, fomos todos ao Teatro da Aliança Francesa assitir uma montagem do Grupo Tapa dirigido pelo Tolentino. Eles estavam desenvolvendo um projeto chamado Panorama do Teatro Brasileiro. Encenações de Martins Penna, Nelson Rodrigues (O Vestido de Noiva) e mais um autor nacional que não lembro agora. O projeto era um sucesso. A Secretaria da Educação de São Paulo patrocinava apresentações para que o público escolar tivesse oportunidade de entrar em contato com grandes autores do teatro brasileiro. Era uma idéia fantástica que poderia ser aproveitada em Porto Alegre visto que os maiores dramaturgos da terra não eram encenados na cidade há mais de trinta anos. Achei que poderia fazer algo semelhante em Porto Alegre e batizei de Projeto Teatro Brasileiro. Havia descoberto a polvóra. Pena que a Secretaria de Educação/RS não deu a menor importância para o projeto e os únicos alunos que levamos ao teatro foram os da Descentralização da Cultura. O que é bom para São Paulo não é bom para Porto Alegre.
Mesmo com este balde de água fria, por insistência da Patrícia Fagundes que achava que a gente devia investir no nome e na idéia, entregamos ao Fumproarte a proposta de uma nova etapa do Projeto Teatro Brasileiro: 2 X NELSON que pretendia encenar O BEIJO NO ASFALTO e BOCA DE OURO num espaço alternativo que seria alugado por seis meses com verba financiada pelo patrocinador.
Nas peças do Arena havíamos transformado o teatro. O cenário do Nelsinho (Nelson Magalhães) ocupava e trasformava literalmente a sala de apresentações e a platéia. A questão espaço estava no embrião da concepção. No "Barão" o espaço era determinante. E mais uma vez queríamos experimentar a relação espaço/espetáculo/público, então não fazer as peças num palco italiano era, agora, um dos pilares da pesquisa que estava sendo detonada com a realização destas duas peças de Nelson Rodrigues e que seria posteriormente aprofundada com as que viriam.
O fato é que o Fumproarte aprovou o Projeto reconhecendo nele originalidade e experimentação. Aleluia!
Assim começamos a ensaiar O Beijo no Asfalto com direção da Patrícia Fagundes.
* Na foto: Kike Barbosa e Vanise Carneiro.

98 - UMA AVENTURA NAS ÁRVORES - TODO MUNDO

Para encerrar a etapa Barão nas Árvores uma foto com todos os participantes, inclusive os músicos e sem os cavalos e, como diretor, quero concluir deixando anotado que com o Barão nas Árvores dei início a primeira etapa de uma pesquisa relacionada ao espaço onde o teatro se realiza. Tenho consciência de que a proposta era ousada. Tenho consciência que o evento era melhor do que a peça. O espetáculo ficou longo, descontínuo nas interpretações e, como seguidamente acontece em Porto Alegre, com a terça parte final pouco ensaiada, apresentando problemas de ritmo. Tenho consciência que colocamos coisas demais na adaptação. Tenho consciência que faltaram recursos financeiros para bancar as idéias que estavam esboçadas na peça e também algumas que foram abandonadas por serem "caras". A realização do espetáculo foi tremendamente gratificante. Já a impossibilidade de realizar uma nova temporada foi decepcionante. Os administradores da cultura e do turismo de Porto Alegre burramente não enxergaram o produto que um bando de teatreiros alucinados estavam colocando em cena. Nem o Porto Alegre em Cena quis bancar mais algumas apresentações da peça. Decepcionante. Até hoje acho que valeria à pena investir na experiência. Dotar o Recanto de uma estrutura adequada para o evento. Devolver a Banda Municipal ao espetáculo. Melhorar os equipamentos de som e de luz. Permitir que o espetáculo amadurecesse. Que a experiência desabrochasse no parque e a peça ganhasse notoriedade e fosse apresentada em outras cidades do país e, por que não do mundo. Apresentar O Barão nas Árvores anualmente no Recanto Europeu durante a semana da Primavera. Colocar a peça no calendário de eventos da cidade como um atrativo artístico e turístico. Em Londres existem peças que estão há mais de trinta anos em cartaze os tupiniquins saem de qualquer ponto do país com o ingresso comprado para assistí-las. Mas em Porto Alegre isso é impensável. Só o Tangos e Tragédias faz isso. Enviamos um projeto para a Secretaria da Cultura do Município e do Estado. Mandamos o projeto para a Secretaria de Turismo do Estado. Enviamos o projeto para Canela/RS, cidade que respira turismo e quer ser conhecida como impregnada de teatro. Não houve interesse. Falta de visão dos nossos donos da cultura. São míopes. Talvez porque se coloquem distantes da cultura.

sexta-feira, 22 de agosto de 2008

98 - UMA AVENTURA NAS ÁRVORES - O CASO DA BANDA MUNICIPAL

De todos os problemas que enfrentamos para colocar a peça em cena, a voz que se fez ouvir mais alto contra o projeto veio justamente do lugar menos esperado: a diretora do Auditório Araujo Vianna, senhora FULANA DE TAL (vou procurar o nome porque esqueci como se chamava a bisca), justamente funcionária da Secretaria Municipal da Cultura. O seu comportamento prepotente e suas atitudes grosseiras foram surreais.
Ensaiando e apresentando um espetáculo em pleno parque era lógico que sentíssemos necessidade de uma base. Precisamos basicamente de duas coisas: um lugar onde guardar objetos de cena de um dia para o outro e a possibilidade de usar o banheiro do Auditório, um ilustre mausoléu atirado as traças naquela época. Ela negou. Seria impossível.
Na época era diretor da banda municipal o Sr. Cláudio Nunes, que gentilmente autorizou que usássemos uma salinha da banda para deixar nossas coisas. Ele assumiu autorizar o que ela havia negado. Aí a relação, que não era boa, azedou.
Numa das nossas manhãs de ensaio, acometido por uma necessidade urgente de usar o banheiro, corri ao Araújo Vianna, pedi licença para usar o banheiro. A resposta foi que "a diretora havia terminantemente proibido o uso dos sanitários pelas pessoas do teatro". Apertadíssimo, forcei a passagem e me autorizei a usar o banheiro.
Dias depois recebemos um comunicado do Fumproarte avisando que a Banda Municipal não poderia mais apresentar-se junto ao espetáculo, porque de acordo com o artigo tal, da lei tal, do regimento tal, era proibido que um espetáculo financiado pelo Fumproarte se beneficiasse de outro departamento também ligado a prefeitura.
Quem vocês acham que seu ao trabalho de pesquisar e encontrar este item do regimento?
Pois é, assim a diretora do Araújo Vianna sentiu-se vitoriosa ao retirar a Banda da peça. Fizemos as três primeiras apresentações com a participação maravilhosa da Banda Municipal e outras cinco sem. Tem algumas pessoas que são tão distantes da cultura que não se entende como vão parar justamente na pasta da Cultura. Esta senhora continua lá até hoje. Tomara que nunca mais em função importante que lhe dê algum poder para destruir onde outros estão construindo.

terça-feira, 17 de junho de 2008

98 - UMA AVENTURA NAS ÁRVORES - A MÚSICA

A composição da trilha foi entregue para o experiente músico Cristiano Hansen. Constava de algumas músicas e canções que pontuariam o espetáculo e também a trilha especialmente composta para abertura da peça que dentro da história que estávamos encenando funcionava como a música de abertura das comemorações oficiais de aniversário da Penúmbria, localidade onde tudo se passava. Esta música de abertura era executada pela Banda Municipal de Penúmbria que na verdade era a Banda Municipal de Porto Alegre que, devido a boa vontade dos músicos e gentileza do maestro havia concordado em ensaiar a música de abertura do espetáculo e executar a trilha durante as oito apresentações do espetáculo coisa que acabou não acontecendo por problemas insanos que serão comentados separadamente. A trilha era linda. O momento interpretado pela Banda Municipal era divino. O público não podia acreditar no que estava vendo e ouvindo. A Banda Municipal executando ao vivo, à noite, na Redenção a trilha de abertura especialmente composta para o espetáculo. Desculpem, mas era lindo. Sublime.
A trilha era executada ao vivo pelo próprio Cristiano, o conhecido Gustavo Finckler e o gaiteiro Jorge Cardoso. Acompanhavam de perto o espetáculo, às vezes como músicos contratados para uma serenata, às vezes como músicos da cidade que participavam da solenidade, às vezes integrando-se as cenas. Enfrentaram problemas com o volume. Faltava estrutura. Talvez mais músicos ou estrutura de som mesmo. As canções eram lindas. Vou aprender a colocar aqui nop blog. Pelo menos a canção interpretada pelo Coral do Anões de Penúmbria e a canção final, quando Cosme, já bem velho, se agarrava a um balão e subia e sumia no céu. Outro momento marcante que parecia agradar muito ao público presente.

sábado, 14 de junho de 2008

98 - UMA AVENTURA NAS ÁRVORES - O ELENCO

Não só pela experiência que tivemos trabalhando juntos em Dois Perdidos Numa Noite Suja, mas por se tratar de um excelente e versátil ator, o elenco teria como protagonista Kike Barbosa. Oriundo do Ói Nóis, já contando com uma boa experiência, ele encarnaria o personagem de Cosme, que numa discussão com o pai profere, contra si mesmo, a sentença que o condena a viver sobre as árvores para o resto da vida. Para viver o papel do autoritário Barão, pai de Cosme, convidamos Arlete Cunha, atriz ja naquela época premiadíssima e qualificadíssima, também saída do Ói Nóis. O restante da família se compunha com Giselle Cecchinni, maravilhosa atriz recém chegada de São Paulo, no papel da Baronesa chamada de Generala; Biño Sawitzki, jovem ator cheio de gana, seria o gentil e educado irmão Biágio quando jovem, pois o mesmo papel, na velhice, era desempenhado pelo grande Sérgio Etchichury (mais um do Ói Nóis); e Sandra Possani (mais uma do Ói Nóis), a desagradável irmã Batista. E tinham os agregados. A extraodinária atriz Liane Venturella, aprenderia a andar à cavalo para viver a avançada Viola, a namorada de Cosme. E Tiago Real seria o Conde D'Estomac, incauto pretendente à mão de Batista.
Como se vê um elenco de peso que era secundado por Álvaro Rosacosta, Fernando Pecoits, Laura Backes, Renato Santa Catharina, Vika Schabbach, Vinicius Petry, Giancarlo Carlomagno e Raquel Nicoletti, atriz que hoje reside em Portugal.
Além destes havia os atores que formavam o elenco chamado 1,99 composto por atores iniciantes que receberiam este indigno cachê por dia de ensaio e cada uma das 8 apresentações. Os outros ganhavam um cachê inventado pela produção que servia mais como uma ajuda de custo do que propriamente como um salário digno para a função especializada que é a de ator. Ou músico. Ou diretor de teatro. Os 1,99 eram André Mubarack, Carla Castro, Fernando Xavier (que acabou não estreando), Janaina Pelizzon, Kailton Vergára, Larissa Maciel, Messias Gonzalez, Miriã Possani, que tinha uns 9 ou 10 anos na época, Nádia Mancuso, Sabrina Lermen e Tuta Camargo. Onze atores, quase todos em início de carreira, em sua maioria alunos do DAD que foram recrutados pela produção.
Assim, que eram 16 atores, 11 atores convidados, 2 cavalos da BM, 3 músicos e alguns técnicos. Que sempre ficam indignados porque sempre são nomeados por último.

sexta-feira, 13 de junho de 2008

98 - UMA AVENTURA NAS ÁRVORES - O TEATRO EVENTO

Outro viés da pesquisa nos levava para o teatro (re) colocado como um evento social importante, que tem o poder de recriar novas e múltiplas realidades e sentimentos diante dos olhos e dos corações do público que sente-se, imediatamente cúmplice e fazendo parte de algo ou de alguma coisa maior do que sua pequena vida. Uma nova maneira de propor o teatro aos olhos do público deslocando o evento teatral para um espaço não-convencional mas ligado as origens do teatro, quando atores e público conectavam-se com o cosmos através da arte. A história da arte mostra que em várias épocas o teatro assumiu este papel destacado e importante na sociedade, na civilização.
É claro que o dinheiro que recebemos do Fumproarte jamais daria conta de um sonho deste tamanho, de uma experiência com tamanha profundidade. O investimento não permitiu, por exemplo, que dispuséssemos de boas condições técnicas. Nossa iluminação era, no mínimo, razoável. Pra não dizer ruim. Os camarins que os atores usavam eram péssimos. A acomodação do público era péssima. Causamos estragos desnecessários na vegetação do Recanto Europeu. A improvisação e a criatividade foram requisitos fundamentais em muitos momentos. No final de cada apresentação, onde deveria ter uma mini explosão de fogos de artíficios, estouravámos seis foguetes de doze tidos porque era o que cabia no orçamento. Algumas maravilhosas soluções cênicas são encontradas neste engessamento orçamentário, mas são incontáveis as vezes que brilhantes soluções são sacrificadas porque o dinheiro não alcança. Principalmente quando a assunto é iluminação. As empresas que alugam equipamentos cobram um preço exorbitante.
Então para trazer de volta ao teatro este caráter de evento, de um acontecimento teatral que deve ser visto tem que haver investimento. Quando a gente vê uma apresentação do La Fura del Baus, da Ariane Minuxiquini, cada um dos grandes espetáculos trazidos pelo Porto Alegre em Cena, têm uma grana razoável por trás. Uma produção profissionalíssima movida a grana, a investimento.
Mas, respeitando nossos limites artísticos e financeiros, creio que conseguimos transformar cada uma das oito apresentações de "O BARÃO NAS ÁRVORES" num evento tão único quanto efêmero. Seguiámos no caminho iniciado por todas as experiências, happenings e perfomances cênicas dos anos 60, o trabalho do Bread and Puppet, as pesquisas sobre o espaço orientadas por Jerzi Grotowski, a pesquisa sobre a relação ator/espectador desenvolvida desde de o início pelo Ói Nóis Aqui Traveis. Enxergávamos nestes trabalhos uma preocupação com o espaço e também com a conexão possível entre atores e público (espetáculo); percebíamos que também estes artistas ansiavam por uma expressão mais profunda e autêntica/artística, buscavam a experiência humana que acontece quando o teatro se instaura. Parece muita coisa.

98 - UMA AVENTURA NAS ÁRVORES - O ESPAÇO

"O Barão nas Árvores" foi uma experiência magnífica. Uma experiência que dividiu-se em muitas. Pra começar estávamos delimitando uma nova forma de fazer teatro: o teatro-na-rua. O teatro que, como o teatro-de-rua é realizado na rua, mas que depende como cenário de um determinado local, sem o qual sua concepção ficaria diminuída ou alterada. Pesquisávamos uma relação com o espaço. O espaço-cenário. O espaço enquanto arquitetura e significado relacionando-se com o teatro, influenciando e sendo influenciado por este. O Teatro da Vertigem tinha realizado sua primeira experiência com O Paraíso Perdido, em 1992. Em 1995, O Livro de Jó estava em cartaz num hospital de São Paulo nos mesmos dias e horários em que apresentavámos o nosso "Decameron" no subsubsubsolo do Teatro Ruth Escobar. Eu não pude assistir o espetáculo, mas ele era a sensação e o assunto do momento. No meio cultural, bem entendido. O Barão nas Árvores coloca-se, assim, como mais uma experiência no mesmo sentido. Havia uma tendência no ar. Eu tinha lido uma matéria numa revista falando das pesquisas que estavam sendo realizadas na busca de novos espaços para colocar o produto cultural. Isto vem sendo feito há muitos anos pelas chamadas artes plásticas ou artes visuais e com algumas experiências de grupos da Austrália, Espanha, alemanha e Canadá. Cada um visualizando uma nova maneira de propor o acontecimento teatral diante da platéia. O nosso espaço era sobre as àrvores.

domingo, 8 de junho de 2008

98 - UMA AVENTURA NAS ÁRVORES - OS ENSAIOS

No início do mês de março, confirmado o financiamento do Fumproarte, que entendeu a importância teatral da proposta, com data de estréia marcada para o final de abril, começou a gigantesca e louca aventura de construção do texto e do que viria a ser o espetáculo "O Barão Nas Árvores da Redenção". O complemento no título foi uma sugestão da representante da SBAT para que escapássemos de recolher uma pequena fortuna exigida pelos detentores dos direitos do Ítalo Calvino, autor do romance "O Barão nas Árvores", que junto com "O Cavaleiro Inexistente" e "O Visconde Partido ao Meio" formam a trilogia "Os Nossos Antepassados". Este último, aliás, foi encenado pelo Grupo Galpão, com direção de Cacá Carvalho, alguns anos após o nosso Barão.
Desde o princípio ja sabíamos que todo trabalho de montagem, todos os ensaios, toda a produção, seria apenas para realizar oito míseras apresentações, mas isso não diminuia nem um pouco a energia que colocamos no projeto. Éramos 30, 40 pessoas envolvidas por inteiro na realização da peça. Eu e a Patrícia Fagundes dividimos os capítulos de livro e íamos adaptando e trocando idéias sobre o espetáculo, sobre a concepção das cenas e da peça. Foi um processo riquíssimo. As cenas era passadas aos os atores quase que diariamente. As coisas iam se sucedendo simultaneamente. O espetáculo sendo criado a cada dia de ensaios e a cada noite de escrita. Era a primeira vez que eu trabalhava com a dramaturgia de um espetáculo. Uma verdaderia epopéia é adaptar um romance para o teatro. Ainda mais quando Calvino criara um romance onde acontecia uma sucessão incansável de acontecimentos extremamente encadeados. Sacrificamos muitas cenas lindas do livro e ainda assim o espetáculo ficou longo. Mas tinha que ser assim. Ele (o espetáculo) tinha uma imensa variedade de formas e estilos, apresentava uma gama enorme de surpresas do início ao final da peça, cuja história principal se passava em cima das árvores. Foi uma loucura transpor o texto e as cenas para o teatro. Mas, a prática dos ensaios e improvisações dos atores ia alimentando a escrita do texto e vice-versa.
Os ensaios aconteceriam no próprio local. O ponto de encontro era o Recanto Europeu. O elenco contava com 10 atores pricipais, 20 atores 1,99, dois cavalos da BM, e três músicos, que ficavam ultra indignados porque sempre eram nomeados depois dos cavalos. Mas a música é um capítulo à parte na composição do espetáculo. Aliás, cá entre nós teatreiros, via de regra, a música quase sempre é um problema `a parte na composição de um espetáculo. É ou não é?

domingo, 4 de maio de 2008

98 - UMA AVENTURA NAS ÁRVORES - A LIBERAÇÃO DO RECANTO

É claro que fazer uma peça no Recanto Europeu não foi uma coisa fácil de conseguir. Mais um embate, entre tantos outros, com a burocracia da Prefeitura de Porto Alegre. O pessoal da arquitetura da SMAM e a Associação dos Amigos do Parque da Redenção fizeram o possível para melar a idéia. Mas, de reunião em reunião, de gabinete em gabinete, com o apoio concreto do diretor do Parque Farroupilha da época, fomos convencendo a todos do óbvio: era culturalmente importante que o Recanto fosse liberado para os ensaios e apresentações de um espetáculo inédito em Porto Alegre; era de extrema importância incentivar a experiência de colocar o teatro em espaços alternativos porque experiências como esta vinham sendo realizadas por pouquíssimos grupos do país e, além disso era politicamente democrático que a arte ocupasse o Parque da Redenção, bem como qualquer outro espaço público. Enfim, esclarecer que o mínimo que a administração pública poderia fazer era ceder o espaço para uma experiência, ousada, original e inédita no mundo: encenar O Barão nas Árvores sobre as árvores da Redenção. Aos poucos fomos recebendo apoios importantes de vários setores da Prefeitura. O único departamento que ficou frontalmente contra o projeto desde os ensaios até o último dia de apresentação foi a direção do Auditório Araújo Vianna. Gol contra na Cultura. Perfeita bola nas costas. A relação que se estabeleceu com a diretora da época foi a pior possível. Nem energia elétrica o Araújo Vianna queria ceder para a peça. E acho que não cedeu mesmo. Nem os banheiros podiam ser utilizados sem que vc esperasse horas pela liberação. Foi terrível.

sábado, 26 de abril de 2008

97 - UMA AVENTURA NAS ÁRVORES - O PROJETO


Enquanto apresentávamos as peças do Plínio Marcos lá no Arena, colocamos o Projeto Barão nas Árvores no edital do Fumproarte. Foi recusado da primeira vez por falta de foco. É que além da peça, estávamos propondo uma mostra fotográfica do Parque da Redenção e um debate sobre a situação dos parques públicos de Porto Alegre. No segundo semestre reapresentamos o Projeto que agora era só uma peça de teatro que aconteceria no Recanto Europeu do Parque Farroupilha, a Redenção.
Dois ou três anos antes eu havia lido e ficado maravilhado com a magnífica obra homônima de Ítalo Calvino: a história de um menino, que aos 9 anos, enfrenta frontalmente seu pai quando assume sua recusa de comer escargots, levanta-se da mesa, sobe numa árvore e decide que nunca mais vai descer. E nunca mais desce. A mim parecia uma metáfora sobre o fazer teatral. Uma metáfora sobre a obsessão de fazer teatro. A obstinação do artista. Fiquei fascinado tanto pelo livro quanto pelas possibilidades cênicas que ele apresentava.
Um tempo depois passei pelo Recanto Europeu e pude enxergar a peça se desenrolando ao longo de uma extensa sequência de árvores que existem ali. Era o lugar ideal para encenarmos a fantástica aventura criada por Calvino. E com esta montagem dávamos mais um passo na formação de um grupo de teatro que viria a ser o Depósito de Teatro.


97 - ABAJUR LILÁS - A TRILOGIA SE COMPLETA

Encerrando o ciclo, entrou em cartaz a feroz O ABAJUR LILÁS, que coloca em cena o submundo da prostituição, com seus bordéis, quartos pulguentos, putas, cafetões, leões-de-chácara, a escória da escória portuária que Plínio Marcos tão bem conheceu em Santos, sua cidade natal. Nesta peça fiquei sem minha assistente de direção, que passou a integrar o elenco. As três prostitutas, Célia, Leninha e Dilma, eram, respectivamente Patrícia Fagundes, Vanise Carneiro e Adriane Azevedo. Fizemos contato com o Sindicato das Prostitutas, e algumas participaram de ensaios orientando diretamente as atrizes quanto ao comportamento e esclarecendopreconceitos e verdades deste mundo. Na cena, o que se viu foi Patrícia Fagundes experimentando-se como atriz, o que na opinião dela teve um resultado sofrível, e na minha, achei que ela atuava com verdade, vivacidade, charme e propriedade. Mas talvez ficasse às vezes com um olhar de diretora dentro da cena. Vanise Carneiro, na época uma jovem atriz, estudava com afinco seu texto e buscava nuances em sua interpretação que era muito convincente. Minha amiga Adriane Azevedo, que compôs com frieza e racionalidade seu papel, na cena investia com muita força e defendia bravamente sua Dilma. Adriane recebeu o Açorianos de Melhor Atriz Coadjuvante por este trabalho. O possuído e violentíssimo leão-de-chácara Osvaldo foi encarnado pelo ator Álvaro Rosacosta, também frio e calculista na composição, mas quente e inteiro na atuação, tanto que aparentava um verdadeiro prazer em torturar as três prostitutas. Giro, o veado dono da espelunca em que as três trabalham foi entregue ao grande ator e colega maravilhoso Paulo Vicente, que realizou, na minha opinião, uma interpretação memorável. A peça era densa, asfixiante. Um amigo meu, ao final de uma apresentação, falou que a gente deveria colocar uma passarela estendida da porta do teatro ao muro do viaduto para que o público se jogasse ao final do espetáculo, tal era a sensação de incômodo e mau estar físico causado pela peça. Realmente , era uma hora de puro terror, onde Plínio Marcos não deixa pedra sobre pedra. E a peça era, ou tentava ser, fiel a visão de mundo e sociedade pregada pelo autor. Completava-se assim a trilogia ARENA CONTA PLÍNIO, que acabou se restringindo as temporadas realizadas no Teatro de Arena. Todas as peças fizeram uma segunda rodada de apresentações no mesmo teatro no início de 1998 e encerraram suas carreiras sem atingir uma das principais propostas do Projeto Teatro Brasileiro que era mostrar o espetáculo para novas platéias que desconheciam a obra de Plínio Marcos. Bem que tentamos um contato com a Secretaria de Educação mas não houve interesse.

97 - "DOIS PERDIDOS..." ENTRA EM CARTAZ

Logo depois da estréia da Navalha... já estávamos ensaiando Dois Perdidos. Mais uma vez eu tinha a Patrícia ao meu lado como assistente de direção, como conselheira eficaz e ensaiadora junto aos atores. No elenco estavam Carlos Azevedo, ator técnico, racional, displicente nos ensaios, mas forte e vivo em cena, defendendo seu Paco com unhas e dentes, e o angustiado (no bom sentido) Kike Barbosa, excelente, dedicado, emocional até a medula, na pele do Tonho. Os dois se completavam. As diferenças de personalidade, se causaram em alguns momentos algum stress entre os dois, colaboravam na exarcebação da polaridade de Paco e Tonho, e isso atuava de maneira positiva no resultado do trabalho, que talvez tenha sido a peça que mais atingiu seus objetivos e encantou a platéia. Também, cá entre nós, este texto é muito bom. Uma pequena obra prima de Plínio Marcos. Recebi uma indicação para melhor direção e a peça foi indicada para melhor espetáculo. Ficou apenas nas indicações, mas significou uma grande vitória.

sexta-feira, 25 de abril de 2008

97 A NAVALHA NA CARNE

Na noite de estréia de A NAVALHA NA CARNE, a SMOV que andava fazendo uma obra de restauração no viaduto da Borges, resolveu despejar um caminhão de areia impedindo a passagem do público. Simplesmente não tinha como ninguém chegar no Teatro de Arena. Foi um stress adicional conseguir convecer um grupo de trabalhadores a desimpedir a passagem. Foi terrível. Eu estava excessivamente nervoso porque depois de muitos anos eu estava voltando a assinar a direção de um espetáculo e não queria que nada desse errado.
A NAVALHA NA CARNE foi a primeira das três a estrear. Patrícia Fagundes era minha assistente de direção, colaboradora importantíssima na execução do trabalho. Trouxessemos a diretora Ariela Goldmann para fazer um trabalho de preparação corporal e coreografia de brigas e porradas. A participação dela foi essencial para as três peças. No elenco estavam VERA MESQUITA, atriz de grande força e intensidade como Neusa Sueli; PINDUCA GOMES em sua primeira (e única, eu acho) performance dramática era o Vado; e RENATO CAMPÃO ator personalíssimo, afiadíssimo, inteiro em cena vivendo Veludo. Acho que consegui engessar a veia cômica do Pinduca, mas tive que brigar o tempo inteiro para restringir os cacos e referência do mundo gay portoalegrense que o Renato teimava e insistia em colocar no espetáculo. Desde o início, ainda na formulação do projeto, eu já pensava em trabalhar com o Campão. Achava que o estilo dele, a força dele em cena tinha muito a ver com aquela peça. Para o papel de Neusa Sueli, lembro que cheguei a pensar na Liane Venturella e até mesmo convidar a Adriane Mottola. É difícil demais, agora, na distância do tempo falar sobre os resultados. Lembro apenas que fiquei muito satisfeito. Uma pena que não se tenha uma crítica ou comentário sobre o trabalho. É mesmo lamentável. Lembro que os comentários eram bons, mas infelizmente só nos chegam aos ouvidos os bons comentários. As coisas "ruins"que poderiam nos fazer crescer são comentadas apenas na ausência dos interessados. Eu gostei do resultado. Achava que estava propondo um teatro de risco, com uma boa dose de originalidade, ousadia e transgressão, além de se colocar nitidamente como um teatro politicamente engajado. Ficava uma questão que somente seria parcialmente respondida muitos anos depois: o confronto de uma interpretação realista com uma encenação e um cenário que buscavam uma fuga do realismo.

quinta-feira, 24 de abril de 2008

96/97 ARENA CONTA PLÍNIO - O COMEÇO DE TUDO


Entrei para o DAD - UFRGS em 1974, tinha 20 anos, tinha feito vestibular para Medicina, mas passei em Teatro, que era minha oitava opção. (É, pasmem! Naquele período geológico a gente podia colocar oito opções para o vestibular.) A primeira peça que fiz foi "Quando as Máquinas Param", de Plínio Marcos, em 1976, com direção do meu grande amigo Paulo Florês, que entrou no DAD junto comigo e hoje é um dos líderes da Terreira de Atuadores Ói Nóis Aqui Traveiz.
Mais tarde, passados 20 anos, ou seja, em 1996, consegui por edital ocupar por seis meses o Teatro de Arena para colocar em cena um projeto que eu vinha acalentando há, mais ou menos, uns dez anos: encenar uma trilogia Plínio Marcos que só podia acontecer se fosse no Arena por tudo que o Arena e o Plínio Marcos sempre representaram para a história do Teatro Brasileiro. Meu plano era encenar NAVALHA NA CARNE, DOIS PERDIDOS NUMA NOITE SUJA e QUANDO AS MÁQUINAS PARAM, todas com o mesmo elenco, coisa que acabou não acontecendo, por que naquele momento julguei que esta última peça era datada. Hoje percebo que estava enganado, mas... No lugar de QUANDO AS MÁQUINAS PARAM entrou a violentíssima O ABAJUR LILÁS. Mudou a peça, mas o projeto, com o nome de Projeto Teatro Brasileiro - Arena Conta Plínio aconteceu em toda sua potência dramática, sendo as três peças ambientadas no mesmo cenário asfixiante projetado pelo ultra excelente, genial Nelson Magalhães. Com pouquíssimas alterações o cenário abrigou as três encenações, que eram fortes, espetáculos de alto impacto, ou pelo menos era isso que eu, como diretor, queria que que cada uma delas causasse na platéia: impacto. Eu e o Nelsinho passamos muitas noites bebendo cerveja e discutindo o cenário em seus mínimos detalhes. O projeto foi aprovado pelo Fumproarte, recebeu uma grana do Estado e mais um dinheiro da Caixa Federal. Deu pra fazer uma produção legal com os atores ganhando cachê de ensaio e pricipalmente para custear o cenário que transformou a Sala do Teatro de Arena numa favela de compensado naval. O público tinha que assistir as peças através de frestas. Eram voyeurs do barraco do vizinho. O olhar do público devia completar a imagem do ator através de espelhos que circulavam o ambiente que era livremente inspirado em Bispo do Rosário, trabalhando com muitas velas, muitos ex-votos. O cenário era urbano e transpirava opressão, favela, miséria, fé, pobreza, ignorância e tantos outros adjetivos do Brasil retratado por Plínio Marcos.

FORA DO TEATRO MAS NA FARRA DE TEATRO


Não tenho conseguido ir ao teatro, por isso tenho andado longe deste blog. Mas... neste final de semana, depois de ter realizado mais uma Farra de Teatro, vou conseguir assistir alguma peça e na volta escreverei minhas impressões sobre ela, apenas como tenho feito: um exercício para aprender a expressar minha opinião no papel, no caso no blog. Assisti o filme Ratatouille (Ra-Ta-Tui, conforme explica o didático cartaz) que reserva um papel cruel para o crítico. Tem um personagem que é um crítico severo, que não poupa adjetivos para destruir as vítimas de suas críticas cruéis, como por exemplo, o restaurante onde trabalha o ratinho protagonista. Nem de longe me vejo como ele. Escrevo por puro diletantismo, para entender o teatro que eu faço, para aguçar minha percepção do teatro. Quanto a Farra de Teatro, mais uma vez foi uma maravilha. desta vez o tempo colaborou maravilhosamente bem. Tudo rolou com uma energia de arrepiar até as almas menos sensíveis. Um super público atento que permaneceu durante as quatro horas de duração do espetáculo. A cena do apedrejamento da negra, inspirada numa condenada nigeriana, arrancou aplausos emocionados do público. Nos inspiramos na Farra dos Atores, criada por um diretor carioca chamado Márcio Vianna, falecido prematuramente. O cara inventou esta original e diferente manifestação teatral, e nós nos baseamos, descaradamente, nela para colocar anualmente, no estacionamento da Usina do Gasômetro, a nossa Farra de Teatro. Evoé!

UM PODEROSO TRAQUE



Com um propósito firme de construir um teatro modestamente confortável e seguro, tanto para os que trabalham, quanto para o público externo, lançamos uma grande campanha para angariar a verba necessária a reforma e adaptação de uma antiga fábrica de torneiras, localizada na parte decadente e pobre da câncio gomes, numa sala de espetáculos. exatamente assim foi construído o nosso(?) theatro são pedro quando porto alegre tinha uns 15 mil habitantes lá pelos idos de 1858. naquela ocasião também recorreram aos bolsos da classe instruída, culta e rica para juntar os contos de réis indispensáveis para dotar a cidade de um teatro à altura das necessidades da época. bons tempos aqueles em que a classe instruída e rica era também culta e doava subsídios para a construção de um teatro. nossa campanha caiu num vazio que escancara a miserabilidade do pensamento atual e demonstra o lugar destinado à cultura (e ao teatro) no universo dos atuais endinheirados e do mercado capitalista em geral.
sabíamos que, sendo um grupo de teatro de porto alegre, independente, duro, precisaríamos contar com o apoio quase irrestrito dos meios de comunicação. julgamos que a mídia letrada, culta, formadora de opinião, nos daria a maior força para divulgar um assunto tão nobre quanto a construção de um teatro e abriria um digno espaço em seus veículos para fazer com que nossa campanha chegasse ao público que consome cultura e aos empresários mais arejados para sensibiliza-los a colocar dinheiro no projeto de um grupo de teatro, da mesma forma que apoiam a poderosa ufrgs a arrecadar dinheiro para a reforma de seus valiosos prédios beneficiando-se de leis de incentivo à cultura. foi a primeira frustração. a matéria não recebeu a consideração e importância que esperávamos encontrar.
seguramente, nós tivemos acesso a um décimo ou menos do que a divulgação que foi dedicada a, por exemplo, o novo teatro do zaffari. eu, que raramente leio a zh, em duas ocasiões diferentes encontrei no segundo caderno matérias sobre a inauguração do teatro. soube, então, que até o paixão cortes estava presente no evento. O jornal do comércio, que, diga-se de passagem, sempre abre espaço para os eventos do depósito de teatro, contribuiu com o mesmo espaço que recebemos quando, por exemplo, estreamos uma peça ou divulgamos nossas oficinas. não entendeu a magnitude da questão. o mais generosa de todas foi a tve que fez um especial de final de ano focalizando a campanha cadeira cativa e nossa transferência para o novo ponto, e ainda ofereceu a possibilidade de veicular um vt de 30" para divulgar a campanha (o que ainda não foi feito).
realmente, dispendemos uma energia enorme para colocar a campanha no ar porque acreditamos obstinadamente na importância de construir um teatro naquela região outrora tão importante da cidade, e que hoje se encontrada conflagrada, uma verdadeira terra de ninguém. uma zona de risco em vários e amplos sentidos. mais essencial se torna quando o teatro que se pretende construir vai atender, não somente as nossas necessidades artísticas e abrigar nosso núcleo de formação de atores, mas também possibilitará que outros grupos da cidade e do país apresentem-se em porto alegre que, aliás, não pode ficar eternamente atrelada ao poa em cena para assistir espetáculos que não são trazidos nem pela opus, nem pelos grandes treatros. mas além de tudo, construir este teatro é importante para o público, para vários públicos, para todos os públicos, pois ao contrário destes "grandes theatros", o depósito de theatro não pretende trabalhar somente para a elite financeira da cidade. pretendemos atingir vários segmentos do público. o nosso teatro é um teatro diferente porque produz espetáculos, porque tem uma escola de formação de novos atores, porque se dedica a manter um espaço aberto a toda população da cidade, porque promove a inclusão cultural e a formação de platéia.
todos estes motivos, no entender da mídia, não nos credencia a receber espaço para fazer nossa campanha chegar no público. o renato mendonça veio até o depósito, fez uma enorme e simpática entrevista, trouxe o fotógrafo, tirou várias fotos e nunca publicou a matéria. uma cabeça mais arejada como a do roger lerina abriu espaço na sua "contra-capa", mas figurões como o cultíssimo professor rui carlos ostermann, que ja nos levou três vezes ao seu programa para falar da bagasexta, não foi capaz de abrir espaço para a campanhar no seu programa na rádio gaúcha. a atriz ivete brandalise deu seu apoio institucional mas não foi capaz de abrir seu microfone para falar uma linha da campanha. o ja do lazier martins nem se fala. é óbvio que, se a poderosa agência escala criasse nosso material de divulgação, se o poderosíssimo grupo rbs colocasse no ar um comercial sobre a matéria, nossa campanha seria um estrondoso sucesso. como é um sucesso a campanha de doações para o theatro são pedro e seu faraônico anexo.
é claro, que considero o teatro do zaffari importante para a cidade. é óbvio que percebo que o tratamento dado ao teatro do zaffari tem que ser diferente daquele que nós recebemos. tem que ser diferente porque eles, o zaffari, a ufrgs, o sesi, o theatro são pedro, gastam uma fortuna na mídia e atendem uma relevante fatia do mercado cultural. mas, além disso, tem que ser diferente porque somos diferentes na essência. não só porque eles têm dinheiro e nós não temos, mas porque nossos princípios são diferentes. os objetivos são diferentes. nosso teatro aposta em nossos espetáculos, aposta na formação de novos atores, aposta na pluralidade de gostos e de públicos, aposta, na prática, e não apenas no discurso, na modernamente chamada inclusão cultural abrindo suas portas também para as classes menos favorecidas.
e aí, nos descobrimos duplamente frustrados. primeiro, porque a mídia não recebeu o projeto como esperávamos e então, é claro, o estardalhaco que queríamos produzir na mídia, soou tão alto quanto um traque. alguns ouvidos amigos colaboraram com a campanha de forma maravilhosa. houve aqueles ouviram e se fizeram de moucos. houve uma elite cultural que se colocou na obrigação de "ajudar". e, na realidade, a arrecadação foi fraquíssima, frustrando de longe nossa meta de arrecadar míseros 100 mil reais.
no fim das contas, nos deparamos com a nossa própria desimportância, e voltamos correndo pra dentro das quatro paredes deste prédio que chamamos de nosso e que um dia vai ser o espaço multicultural depósito de teatro, assim, sem "agá" mesmo. nos deparamos, também, com a certeza que os valores culturais do cidadão portoalegrense não avançaram de 1858 pra cá. passaram 150 anos e a mídia e os empresários e a classe rica, instruída e culta, ainda continua presa a velhos valores que não veem mérito em investir em nada que não se dirija a ela mesma, como é o caso do theatro são pedro, do teatro do zaffari e do teatro do sesi.

DEZ ANOS DE DEPÓSITO



Diz-se que um ano na vida de um gato, significam sete anos na vida de uma pessoa. E um ano de um grupo de teatro, quantos anos equivalem? Cinco? Sete como no caso dos gatos? Estamos chegando a marca dos dez anos. Às vezes penso que é muito tempo e que os grupos de teatro são como os gatos e agora estamos completando uns setenta anos de existência. Mas tem horas que parece que somos realmente umas crianças com dez anos de idade, e fico apavorado pensando no que vai ser de nós quando chegarmos na adolescência, e começarem as espinhas, os desejos, a mudança da voz, os primeiros pentelhos, os problemas do crescimento, os dramas interiores, nossa, fico apavorado. Mas crescer faz muito bem e, apesar da maré contrária, estamos avançando pouco à pouco a cada momentinho destes dez anos. contando com as peças das oficinas, montamos quase 30 espetáculos com um saldo muito positivo de coisas boas. Traçamos uma linda história dentro do teatro. E, o que é melhor, é que estamos cheios de vitalidade para viver os próximos dez anos. Longa vida para o Depósito de Teatro.